Natividade de Nossa Senhora 

Por: Mayara Louzada


Celebramos no dia 8 de setembro de cada ano a memória litúrgica da Natividade de Nossa Senhora. Segundo o Cardeal 

João Orani Tempesta, essa é uma das celebrações marianas mais antigas do calendário cristão. Celebrada nove meses depois da festa da Imaculada Conceição de Nossa Senhora, festa que também revela o mistério que envolve a salvação do povo de Deus. Nossa Senhora, antes mesmo de seu nascimento, já havia sido escolhida por Deus para ser a mãe do Salvador e, por isso, nasce sem a mancha do pecado original.

“Celebremos com alegria e com o coração cheio de fé a memória litúrgica da Natividade de Nossa Senhora, que a exemplo de Maria confiemos totalmente em Deus e que aceitemos os planos D’Ele para a nossa vida. Desde o nosso nascimento, temos uma missão aqui na terra, essa missão consiste em fazer plenamente a vontade de Deus, a exemplo da Virgem Maria”.

Assim como Nossa Senhora, João Batista, Jesus e outros santos que celebramos a memória ou festa litúrgica, nós também nascemos para cumprir uma missão específica na terra: fazer a vontade de Deus. Todos nós batizados somos discípulos e missionários do Pai e, por isso, precisamos ser testemunhas de Jesus e O anunciar a todas as pessoas.

O milagre da natividade de Maria

Segundo a tradição cristã, Maria nasceu de Joaquim e Sant’Ana, moradores de Jerusalém que, já idosos e estéreis, tendo passado a vida inteira rezando pela dádiva de conceber um filho, são agraciados com a notícia da vinda de Maria. Ao nascer, Nossa Senhora recebe o nome de Miriam que, em hebraico, significa “Senhora da Luz” e, quando chegou aos três anos, ela foi levada ao Templo e lá permaneceu até os doze anos de idade. Maria, diferente das outras crianças, foi mantida Imaculada pelo Pai, ou seja, sem a mácula, sem a mancha do pecado original, e por isso é chamada até hoje de “cheia de Graça”, cheia da graça de Deus para que, no futuro, pudesse ser a primeira morada do Filho de Deus.

Não temos nos evangelhos citações a respeito da natividade de Maria ou sobre seus pais, ela só aparece quando está diretamente ligada a algo do Senhor. Maria está presente nos momentos centrais da história da salvação, mas não temos nos evangelhos informações sobre sua aparência, temperamento ou família. O que temos são alguns dados no protoevangelho de Tiago. Mesmo que de início não se relate nos evangelhos nada de extraordinário em seu nascimento, São João Damasceno diz que a natividade de Nossa Senhora, tão improvável, já era um sinal das bênçãos que ela receberia e convida toda a Igreja a celebrar a “natividade da alegria”, a vinda de uma mulher santa, que gerou o maior dos tesouros, e por quem toda a natureza humana é mudada.

Sendo Maria a mãe de Deus, predestinada desde a plenitude dos tempos para trazer ao mundo o Verbo Divino humanado, recebe, na celebração de seu nascimento, as honras por sua eleição e vocação. És a “filha de Sião”, és escolhida por Deus, desde a sua concepção, para preparar o início da nova criação da humanidade. Mae, rainha e advogada nossa, intercedei, elevai ao teu divino filho todas as necessidades das famílias, as crianças, jovens. Maria, mulher da resposta positiva diante da vontade do Pai, protege e ampara os vocacionados, auxilia os que já responderam o sim ao chamado do teu Filho. Maria, o teu nascimento “é então, convite ao renascimento espiritual e à conversão”, o testemunho de Nossa Senhora deve sempre nos renovar, sempre nos “recolocar” nos caminhos do Senhor, para expressarmos com fidelidade, que, em nós e por nós, faz Ele maravilhas.

Nossa Senhora Menina e a Festa da Natividade

A festa da Natividade de Nossa Senhora pode estar ligada à festa do século V de dedicação da Basílica “Sanctae Mariae ubi nata est”, que hoje conhecemos como a Basílica de Santa Ana, em Jerusalém. Mas já no século II as igrejas romanas e bizantinas comemoravam o nascimento da Imaculada.

Em Milão, a festa remonta ao século X e a catedral Duomo, dedicada a Maria Nascente – Madonnina, consagrada em 1572 por São Carlos Borromeu. A imagem de “Maria Bamina” continua em Milão, no santuário confiado às Irmãs da Caridade das Santas Bartolomea e Vicenta. A Irmã Chiara Isabella Fornari, freira franciscana, realizou entre 1720 e 1730 algumas imagens em cera de Nossa Senhora Menina, envolvida em faixas. Em 1739, uma delas foi dada às monjas capuchinhas do Mosteiro de Santa Maria dos anjos, em Milão, que ajudaram a difundir a devoção à Maria Menina.

Entre 1782 e 1842, diversas congregações religiosas foram suprimidas, primeiro pelo decreto do Imprador Giuseppe II e, depois, por Napoleão. Por esse motivo, a imagem foi levada primeiro pelas freiras capuchinhas ao convento das Irmãs Agostinianas, depois às Canônicas de Latrão, onde foi confiada ao Padre Luigi Bosisio, para que pudesse ser doada a algum Instituto Religioso que pudesse manter sua devoção viva. Por fim, a pequena estatueta de “Nossa Senhora Menina” foi para a Casa Geral das Irmãs da Caridade de Lovere, em Bergamo – Congregação religiosa fundada por Bartolomea Capitanio – e desde então as religiosas deste Congregação são chamadas de “Irmãs de Maria Menina”.  Em 1884, a Madre Superiora levou consigo a imagem que, ao chegar a uma das postulantes que se encontrava gravemente adoecida, lhe beijou e pediu cura. A postulante então sentiu um arrepio por todo o corpo e se curou. Este milagre passou, então, a ser comemorado todos os anos no dia 9 de setembro.

Maria – o exemplo

Segundo o cardeal Orani João Tempesta, o nascimento de Maria tem impacto direto na história da salvação. A partir do seu sim ao anúncio do anjo, Deus coloca em ação o seu “plano de amor com a humanidade”, construindo a “casa”, Maria, que receberia Seu Filho, com os 7 dons do Espírito Santo: sabedoria, entendimento, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temos a Deus.

Nossa Senhora está presente nos momentos cruciais da vida e do ministério de Cristo e da história da salvação do povo de Deus. Por exemplo, sua encarnação, crucificação e em Pentecostes. Outros momentos da vida da Virgem não são narrados nos Evangelhos, como sua vida antes de Cristo ou a de seus pais. Temos apenas algumas narrações do protoevangelho de Tiago, um evangelho apócrifo – que não foi aprovado canonicamente pela Igreja – do século II. Porém, o momento central de sua vida não deixa de ser a Anunciação.

Maria não se queixa dos problemas da vida, muito pelo contrário, ela tenta sempre enxergar os ensinamentos de Deus em tudo que lhe acontecia. Maria é uma mulher de “olhar unifocal”, ou seja, seus olhos estavam voltados somente para Deus e para a Sua vontade divina. Com isso, ela nos ensina a ver a vida para além dos nossos sofrimentos, das nossas cruzes, com uma confiança infinita em Deus. Maria é uma mulher atenta e sempre pronta para servir, e este seu serviço não é apenas ação, mas é também portar o mistério e levar outras pessoas a também experimentar o mistério que é Deus por excelência.

Maria é uma mulher a qual todos deveriam imitar, em especial sua virtude e confiança em Deus. Mesmo no momento mais difícil de sua vida, vendo seu filho único na cruz, ela não se desespera, mas confia inteiramente em Deus. É essa confiança nos planos divinos que a faz ser exemplo de vida cristã, obediência, fé e caridade para todos nós. Por seu exemplo, Nossa Senhora é até hoje lugar de refúgio, conforto, proteção e ajuda àqueles que nela creem. Que possamos nos inspirar pela Virgem, em especial em sua confiança em Deus, e acreditar nos planos que Ele reserva para cada um de nós. Que a sua fé, sua caridade e obediência façam parte das nossas vidas para que, assim como ela, possamos nos aproximar verdadeiramente do Pai.

“Maria, a mãe que cuidou de Jesus, cuida com carinho e preocupação materna também deste mundo ferido.”

Papa Francisco.

Curiosidade

Nossa Senhora da Natividade é padroeira e protetora dos cozinheiros, dos destiladores, das costureiras, dos fabricantes de alfinetes e panos e da hospedaria.





Referências:

Igreja celebra natividade de Nossa Senhora, uma das festas marianas mais antigas do calendário cristão. CNBB, 2023

SILVA, Edilson Agreson da. Festa da Natividade de Nossa Senhora. Inspetoria São João Bosco, 2022

TEMPESTA, Cardeal Orani João. Natividade de Nossa Senhora. CNBB, 2023

História de Nossa Senhora da Natividade. Cruz Terra Santa

PAULO, Melody de e VITTO, Rafael. Natividade de Nossa Senhora, o nascimento da Mãe de Deus. Canção Nova

TEMPESTA, Cardeal Orani João. Natividade de Nossa Senhora. CNBB, 2023

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