Exaltação da Santa Cruz

Por: Mayara Louzada

“Naquela ocasião, Jesus disse a Nicodemos: “Ninguém subiu ao céu senão aquele que desceu do céu: o Filho do Homem. Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim também o Filho do Homem será levantado, a fim de que todo o que nele crer tenha a vida eterna”. De fato, Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele”

(Jo 3,13-17)

 

Origens

A festa da Exaltação da Santa Cruz nasceu em 13 de setembro de 335, da dedicação das basílicas do Santo Sepulcro e do Calvário em Jerusalém; após a descoberta das relíquias da cruz pela mãe do imperador, Helena. No dia seguinte – 14 de setembro – houve uma cerimônia solene com a ostensão da Cruz que Helena havia recuperado. A partir daí, aumentou-se o culto da cruz com o desenvolvimento de uma série de homilias feitas pelos papas e iconográficas bem individuais.

Restituição da Cruz 

Igreja do Santo Sepulcro

Em 614, Cosroes II, rei dos persas, travou uma guerra com os romanos e, depois de derrotar Jerusalém, levou a cruz de Cristo consigo. Heráclito, imperador romano de Bizâncio, propôs então um pacto de paz, que não foi aceito por Cosroes; começou uma nova guerra, perto de Nínive, e levou a cruz de volta a Jerusalém.

Nos primeiros séculos da Igreja, os padres viam a cruz para além do sofrimento e morte que ela causou, mas como um símbolo positivo, de cura, de amor e, principalmente, de vitória; assim como cantamos numa antífona da Sexta-Feira Santa: “Pois pelo madeiro da Cruz veio a alegria ao mundo inteiro”. Assim, a cruz é a árvore da vida, o trono e o altar da Nova Aliança. É o sinal de Cristo sobre os seus batizados, configurados a Ele em morte e glória. No dia da Exaltação da Santa Cruz, não engrandecemos a crueldade da tortura, mas o amor que Deus manifestou aos homens ao se deixar morrer nela.

“Mesmo sendo Deus, Cristo humilhou-se, fazendo-se servo. Eis a exaltação da Cruz de Jesus!”

Papa Francisco

Cruz: o amor de Deus para conosco

O evangelho nos mostra que para construir uma relação de amor conosco, Deus se oferece na pessoa de Cristo, na cruz. E voltarmos nossos olhares para Ele nos convida a voltar a nos relacionar com Ele. Não precisamos ter medo, mas sim agradecer pois essa é a medida do amor divino por seus filhos, no seu Filho. O cristão não pode ficar indiferente a cruz, ele precisa ser testemunho dela e do Deus que tanto nos amou que deu seu Filho por nós. A cruz nos chama a seguir Jesus, se queremos segui-Lo, que renunciemos a nós mesmos e tomemos a nossa cruz.

“Quando eu for elevado da terra, atrairei todos a mim”.

(Jo 12,32)

Persignar-se com o sinal da cruz é um antigo costume católico que mostra a anuncia a presença de Deus em nossas vidas, Sua proteção e Seu amor. Assim, fazer o sinal da cruz é também um gesto de oração! São Gregório de Nissa – bispo do século IV – afirmou que a cruz tem significado profundo para o fiel que o descobre com os olhos da fé. É extremamente importante que vejamos o aspecto humano da morte de Cristo na cruz, assim como ver na forma como aconteceu, o elemento divino presente. O mesmo homem que morreu nela, é o homem que junta em si todas as naturezas dos seres numa mesma harmonia. Pela cruz, toda criatura é orientada para Deus e, por meio Dele, se une.

Segundo Santo Irineu – bispo de Lião nos séculos II e III – a morte de Cristo foi a morte do justo pelos injustos; por ela, todos os que creem Nele creem e que sofrem perseguições, são feitos justos. Cristo passa pela cruz para que nós, injustos, possamos nos salvar e chegar também à glória.

O padre africano Tertuliano disse que o valor da cruz está na vida de todo cristão batizado. A água do batismo nunca faltou a Cristo e, mais tarde, a água volta no seu primeiro milagre e no convite aos seus seguidores para beber da fonte da vida eterna. Assim, o batismo de Cristo perdura até a sua paixão, quando jorram água e sangue de seu lado ferido, jorrando com eles todos os sacramentos da Igreja.

São Jerônimo – presbítero dos séculos IV e V – disse que a cruz é carregada nas nossas almas, pois ela é a dor e os percalços que todos nós temos, em qualquer tempo ou lugar. Assim como o evangelho nos diz que, para seguir a Cristo, precisamos primeiro pegar as nossas cruzes. Feliz daquele que carrega consigo a sua cruz, símbolo da ressurreição do Nazareno.

E assim como a cruz é sinal de salvação para os que creem, para os incrédulos, ela é escandalosa. Na cruz, tudo tem sentido, ela traz significado para todas as coisas do universo. Ela nos redime quando estamos envoltos em pecado, nos purifica e nos converte em casa de oração e adoração. O madeiro da vida foi plantado na terra para que pudéssemos ter a benção do Pai. Por esse motivo, não podemos temer ou nos envergonhar dele! Devemos fazer o sinal da cruz ao comer ou beber, ao nos levantarmos e quando vamos nos deitar, antes de sairmos, ao passa em frente a hospitais ou igrejas. O sinal da cruz é uma ajuda concreta a todos que nela creem, e não requer esforço nenhum. É uma graça do Pai e uma marca de todo católico, que afugenta o inimigo, pois foi com ela que Jesus triunfou sobre o mal e o expôs ao escárnio público.

Santo Agostinho disse que a morte e a ressureição de Jesus são sinais de sacramento e modelo para o cristão, pois Ele, mesmo não tendo pecado, na sua morte, nos reconciliou com o Pai. Morrendo o corpo humano, mas depois ressurgindo, Cristo se rebaixa à nossa condição humana, e transfigura o nosso corpo humilhado, transfigurando-o a seu corpo glorioso (cfr. Fl 3,21).

Segundo São Leão Magno – Papa entre 440 e 461 d.C – toda dificuldade e toda esperança do homem está fundamentada na cruz de Cristo, é dela que vem nossa força para continuar enfrentando as dificuldades da vida. O cristão é convidado a imitar a Cristo, amar colo Ele amou, e isso significa aceitar a sua cruz: acabar com o erro, a ganância, os vícios e a vaidade própria, a fim de melhor celebrar a Páscoa do Senhor na vida das pessoas.

“Algumas pessoas não-cristãs podem se perguntar: por que ‘exaltar’ a cruz? Podemos responder que nós não exaltamos uma cruz qualquer ou todas as cruzes: exaltamos a Cruz de Jesus Cristo, porque é nela que foi revelado o máximo amor de Deus pela humanidade”

Papa Francisco

Mas por que a cruz?

Papa Francisco diz que a cruz foi necessária por causa da “gravidade do mal que nos mantinha escravos”, e ela mostra tanto a força negativa do inimigo quanto a onipotência suave da misericórdia divina. Quando olhamos para a cruz, vemos o sinal do amor que o Pai tem por cada um de nós e a salvação que ela nos traz. Por isso a Igreja a exalta e a tem como símbolo de bênçãos. Dela vem a misericórdia de Deus para com o Seu povo, vencendo todo o mal e a morte, dando vida e esperança aos Seus filhos. Aceitar a sua cruz significa seguir o caminho de Cristo, nos colocar firmemente na obra do Pai, aceitando com ela todo o sofrimento e sacrifício que vier, para alcançar a glória eterna.

“A Cruz parece decretar o fracasso de Jesus, mas, na realidade, marca a sua vitória. No Calvário, aqueles que o injuriavam, diziam: ‘Se és Filho de Deus, desce da cruz’. Mas a verdade era o oposto: justamente porque era o Filho de Deus, Jesus estava ali, na cruz, fiel até o final ao desígnio do amor do Pai. E exatamente por isso Deus ‘exaltou’ Jesus, dando-lhe uma realeza universal”.

Papa Francisco

 

 

Referências:

PAULO, Melody de e VITTO, Rafael. Exaltação da Santa Cruz, o amor de Deus que se manifesta. Canção Nova

CORBELLINI, Dom Vital. A Celebração da Exaltação da Santa Cruz. CNBB, 2021

Exaltação da Santa Cruz. Vatican News

BEIJAMIM, Reinaldo. O que significa a Festa da Exaltação da Santa Cruz? Redentoristas, 2023

Papa explica o significado da Exaltação da Santa Cruz. Canção Nova, 2014

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