Agosto – Mês das vocações

Discernimento e Vocação
POR: Mayara Louzada  

Vocação é o chamado feito por Deus a cada um de nós, e que demanda uma resposta livre e de coração, para assumir os compromissos específicos. Enquanto discernimento vocacional é o processo que a pessoa passa para compreender sua vocação pessoal dentro da Igreja. Em 1981, em Itaici – SP, ocorreu a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), tendo tema “Vocações, Vida e Ministério do Padre”, onde ficou instituído que agosto seria o mês das vocações, com objetivo de conscientizar as comunidades a respeito da sua importância nos processos vocacionais. Cada chamada é pessoal e possui uma chave única, como uma senha que só quem recebe conhece e se desenvolve em um tempo e contexto específicos, traçando uma história pessoal, comporta por momentos particulares e significativos.

“a nossa vida e a nossa presença no mundo são frutos de uma vocação divina”

(Papa Francisco)

Em uma mensagem para o 57º dia mundial de oração pelas vocações, em 2020, Papa Francisco escolhe quatro palavras-chave em agradecimento aos sacerdotes que o  ajudam em seu ministério: tribulação, gratidão, coragem e louvor.

Tribulação é a primeira palavra usada pelo Papa Francisco para falar das vocações.

Em uma noite de tempestade no lago Tiberíades, após a multiplicação dos pães, Jesus ordena aos discípulos que subam em um barco e sigam até a outra margem, enquanto se despedia do povo. Esta travessia pode ser uma alusão às nossas travessias pessoais, e às nossas vidas. O barco da vida anda devagar, procurando algum lugar calmo para atracar, enfrentando os problemas e riscos do mar e esperando por ordens que o mandem para o caminho certo. Porém, muitas vezes ele se perde, se deixa levar por ilusões e esquece de seguir a luz do farol. O mesmo aconteceu com os discípulos que, quando foram chamados a seguir o Mestre, precisaram decidir ir à margem oposta do rio, deixando de lado as inseguranças e medos para seguir a Cristo.

A segunda palavra usada pelo Papa é gratidão. É difícil o caminho do vocacionado, que sofre, tem medo, angústias, mas que segue sempre em frente apesar das ondas contrárias, pois, como diz o Evangelho, nós não estamos sozinhos! Jesus está conosco, caminhando sobre as águas tempestuosas do mar das nossas vidas e, assim como chamou Pedro a vir ao Seu encontro, também nos chama a adentrar essas águas e segui-Lo, cada um de nós no seu caminho próprio.

Caminhar na direção certa depende de muito mais do que nossos esforços ou dos recursos que temos, realizar aquilo que está destinado não é um resultado prático ou matemático do nosso ego, mas é, acima de tudo, uma resposta ao chamado divino. É Deus quem mostra para onde nosso barco deve ir, e nos alimenta de força e coragem para navegar, Ele nos torna ao mesmo tempo tripulantes e passageiros habilitados, mesmo nas águas mais turbulentas.

“Mais do que uma escolha nossa, a vocação é resposta a uma chamada gratuita do Senhor”

(Carta aos Presbíteros, 4/VIII/2019)

A terceira palavra que o Papa usa é coragem. Assim como em outras passagens, no barco em Tiberíades os discípulos também tiveram medo! Ao verem Jesus vindo em sua direção, não o reconheceram e julgaram estar vendo um fantasma, até que Ele disse “Coragem! Sou Eu! Não temais!” (Mt 14, 27) Muitas vezes aquilo que nos paralisa, nos mantém presos ao medo de seguir em frente são os fantasmas em nossos corações, e quando sentimos o chamado de Deus para segui-Lo em nossos caminhos, nossas vocações, não O reconhecemos. Não reconhecemos como sendo a voz de Deus nos mostrando o caminho, ficamos cegos frente ao que Ele nos mostra por não acreditarmos que seja a melhor escolha, até mesmo perguntamos os motivos para Deus ter nos pedido isso. Até que nossa cabeça e nossos corações estejam cheios de dúvidas e apreensões que nos fazem hesitar ou desistir de continuar navegando. Deus sabe que seguir sua vocação exigem coragem, Ele conhece cada sentimento e cada pensamento de Seus filhos e nos tranquiliza, “Não temas diante deles; porque estou contigo para te livrar, diz o Senhor.” (Jr 1,8)

Todas as vocações exigem empenho do vocacionado. Deus nos chama para, como Pedro, sermos capazes de caminhar sobre as águas, para conseguirmos trilhar o Seu caminho; mas Ele também sabe das dificuldades que temos. Tantos religiosos, quanto leigos passam por adversidades que muitas vezes nos fazem tirar os olhos de Jesus, mas é a fé que nos faz voltar a Ele e vencer as marés ruins. É dando a mão a Cristo que conseguimos ter forças para continuar na caminhada para viver com plenitude e alegria a nossa vocação.

Por último, mas nem um pouco menos importante, ele fala do louvor. O louvor é um convite a “cultivar a atitude interior de Maria Santíssima”, é dedicar as nossas vidas inteiramente ao caminho que Deus nos apresenta, assim como fez Nossa Senhora.

“E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura.”

(Mc 16,15)

Quais são as vocações?

Sabendo agora o que é ser vocacionado, podemos refletir sobre quais são as vocações para as quais Deus chama seus filhos. Dentro da Igreja Católica, temos três:

  • Vida laical – matrimônio
  • Vida sacerdotal – ministério ordenado
  • Vida consagrada – leigos consagrados

Todos nós somos chamados à santidade, independente de nossas vocações, carismas e ministérios, e durante o mês de agosto, cada domingo é dedicado a uma vocação específica, onde a Igreja nos chama a rezar por cada uma delas.

1º domingo – Ministérios Ordenados

No dia 4 de agosto celebramos a festa de São João Maria Vianney, que é considerado o patrono dos padres. Assim, na primeira semana de agosto rezamos por todas as vocações sacerdotais e pelos ministérios ordenados – diáconos, padres e bispos. Eles têm extrema importância para a vida da comunidade, pois são eles quem dão continuidade a missão que Cristo confiou a seus apóstolos.

2º domingo – Vocação Matrimonial ou Familiar

O segundo domingo é dedicado aos chamados à vocação do matrimônio, de formar uma família. Ela deve ser o nosso primeiro encontro com a fé, deve fortalecer os nossos valores cristãos e ser base para as nossas vidas. Assim, esse domingo marca não só o dia dos pais como também o início da semana da família onde rezamos especificamente por cada família, para que os pais consigam formar lares fundamentados no amor e no respeito, para que seus filhos vejam neles a presença de Cristo.

3º domingo – Vocação à vida religiosa consagrada

No dia 15 de agosto temos a celebração da Assunção de Nossa Senhora, e assim dedicamos essa semana a rezar por todas os religiosos e religiosas que têm por vocação ser sinal do reino de Deus, vivendo votos de obediência, pobreza e castidade. Eles são homens e mulheres que vivem de forma absoluta o seguimento de Jesus e são anunciadores e testemunhas das alegrias do Evangelho, cada um com o carisma e a vivência específica de sua comunidade apostólica ou contemplativa.

4º domingo – Vocação laical

O quarto domingo de agosto é dedicado àqueles que chamamos leigos, que anunciam o Evangelho. Eles assumem diversos ministérios dentro das comunidades cristãs, servindo à Deus com amor e dando testemunho, são vocacionados importantes, que ajudam no crescimento das comunidades, e levam ao mundo a Palavra.

5º domingo – Vocação do catequista

Nos anos em que ocorre de se ter cinco semanas no mês de agosto, separamos o último domingo para rezar por aquelas pessoas que, sentindo e aceitando o chamado de Deus, decidem se dedicar a ensinar sobre a Palavra e transmitir os caminhos de Cristo. O catequista faz de sua vida um testemunho da mensagem redentora do Evangelho. O ministério do catequista foi instituído em 2021 pelo Papa Francisco, que afirmou que “é necessário reconhecer a presença de leigos e leigas que, em virtude do seu Batismo, se sentem chamados a colaborar no serviço da catequese”, em especial em um mundo como o de hoje onde evangelizar fica cada dia mais difícil. O catequista tem como missão própria levar seus catequizados à comunhão com Cristo, ofertando seu tempo e disposição a crianças, jovens e adultos, afim de anunciar Deus, seu amor, sua misericórdia e compaixão.

Sabendo dessa divisão, é importante dizer que todos, independente de vocação, são igualmente importantes e necessários para a vida da comunidade. Cada um de nós tem um carisma e/ou um ministério, mas todos nós batizados somos igualmente chamados por Deus a servir e seguir o caminho da santidade, como evidencia muito bem o Papa Francisco ao dizer que “Ser santo é uma vocação para todos”. Rezemos então por todos aqueles que já seguem as suas vocações, para que não desanimem, e para que cada vez mais e mais pessoas sejam atraídas aos chamados de Deus.

“Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda.”
(Jo 15,16)

Que as nossas vocações não passem despercebidas nem ignoradas, e que sejamos mais como Pedro caminhando com Jesus, em nossas vidas particulares e comunitárias, dando graças sempre e chamando outros a glorifica-Lo conosco. 

 

 

FONTES:

FRACCALVIERI, Bianca. Gratidão, coragem, tribulação e louvor: as palavras do Papa para as vocações. Vatican News, 2020.

ALBUQUERQUE, Pe Ricardo de. Agosto: mês das vocações. Pascom Brasil.

Por que Agosto é o mês das vocações? Comunidade Católica Shalom, 2023.

Agosto, mês das vocações. Nossa Senhora Aparecida Votuporanga, 2024.

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