Solenidade da Transfiguração do Senhor
POR: Mayara Louzada
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Mc 9, 2-10)
Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, e os levou sozinhos a um lugar à parte sobre uma alta montanha. E transfigurou-se diante deles. Suas roupas ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar. Apareceram-lhe Elias e Moisés, e estavam conversando com Jesus. Então Pedro tomou a palavra e disse a Jesus: “Mestre, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Pedro não sabia o que dizer, pois estavam todos com muito medo. Então desceu uma nuvem e os encobriu com sua sombra. E da nuvem saiu uma voz: “Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz!” E, de repente, olhando em volta, não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus com eles. Ao descerem da montanha, Jesus ordenou que não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do Homem tivesse ressuscitado dos mortos. Eles observaram essa ordem, mas comentavam entre si o que queria dizer “ressuscitar dos mortos”.
FESTIVIDADE
No último dia 06 de agosto celebramos a festa litúrgica da Transfiguração do Senhor no Monte Tabor. Foi ali onde Moisés e Elias apareceram aos discípulos, onde a voz do Pai confirmou a Sua filiação (Lc 9, Mc 6, Mt 10); onde foi revelado o destino de Cristo e que a cruz era a vontade de Deus. São Tomás de Aquino afirma que neste momento aparece toda a Santíssima Trindade: o Pai pela voz, o Filho em Jesus e o Espírito Santo pela nuvem luminosa que cobre os apóstolos.
Existem muitas invocações usadas para se falar da solenidade da Transfiguração do Senhor, como Bom Jesus, Santo Cristo, Salvador do Mundo, entre outras. Ela começou a ser celebrada no Oriente, como uma das maiores festas da igreja oriental, precedida pela oração de vésperas solene e seguida da grande vigília de oração; e traduz a teologia da divinização do homem. Foi apenas em 1457, com o Papa Calisto III, que ela passa a integrar o calendário ocidental.
É bastante provável que a solenidade seja celebrada no dia 06 de agosto devido a festa da dedicação da Igreja do Monte Tabor, além de ser de ser exatamente 40 dias antes da Festa da Exaltação da Santa Cruz. Historicamente, na época de Cristo, este era o dia em que as pessoas levavam os frutos da estação até o altar do Senhor para serem abençoados. Neste dia, católicos e ortodoxos celebram a Transfiguração do Senhor e Nosso Salvador Jesus Cristo, junto com cristãos luteranos e ortodoxos, à luz do mesmo espírito, que nos une a Jesus.
A TRANSFIGURAÇÃO
Jesus escolhe três de seus discípulos – Pedro, João e Tiago – e os chama a subir o Monte Tabor com ele. Chegando lá em cima, Jesus faz com que eles contemplem sua face luminosa, renovando suas esperanças e confirmando sua fé. Durante a Transfiguração os discípulos são envoltos pelo Espírito Santo e têm seus olhos e ouvidos abertos, comtemplam a face de Cristo e são transformados pela sua luz. Seus ouvidos agora ouvem a voz do Pai e o Seu chamado que dá vida. No Tabor não só Jesus é transformados, mas também Pedro, João e Tiago, e assim como os três, nós também somos chamados a mudar, a nos transformar. Ir à igreja é como subir no Tabor e estar diante da luz de Cristo, é ser chamado para a vida do Pai.
E assim como foi com os discípulos que se prostraram ao chão por medo, nós também titubeamos, temos dificuldades com nossas próprias convicções a respeito da vida, de Deus e de tantas outras coisas que nos fazem ter falsas ilusões de segurança e razão. É necessário que nos abramos à essa luz, é necessário que aceitemos a mudança que Cristo pretende fazer em nós a cada dia. Precisamos deixar para trás tudo aquilo que não é realmente necessário para a nossa vida, o que é mundano, que nos arrasta para baixo no Monte, para que Cristo nos ajude a subir o Tabor com ele.
“Vinde a mim, todos vós, que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso”
(Mt11, 29)
No Tabor, Jesus mostra aos discípulos algo que antes eles não percebiam: a glória de Deus que coabitava em seu corpo humano. O milagre não é, porém, a manifestação dela, mas sim o seu ocultamento. E é ocultando sua glória divina que nós, que somos apenas humanos não conseguimos enxergar, que Jesus mostra ser o próprio Deus encarnado. Com Deus, o homem se transforma.
No céu estaremos perfeitamente unidos a Deus, seremos em plenitude “participantes da natureza divina”, como diz São Pedro, (2Pe 1, 4), e não haverá mais dor ou sofrimento, morte ou doença, fome, sede ou sono; viveremos em plenitude.
E como podia Cristo, desde o ventre materno, ocultar essa luz que a tudo consome? O milagre é Deus, que em sua totalidade e perfeição, se faz plenamente humano como nós em Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. O filho de Deus se oculta numa vida humana humilde para nos mostrar o caminho da glória que já havia dentro de si.
Mas nós também escondemos essa graça, ou ao menos nos escondemos dela. Todos somos filhos de Deus, o Pai nos adota e passa a habitar em nós, em nossos corações, e ainda assim nós insistimos em viver daquilo que não pertence a Ele, nos causando dor e sofrimento. A divindade de Jesus novamente se “esconde” para que, deixando de lado nossas humanidades, possamos buscar a sua graça. Os discípulos, ao verem Cristo transfigurado em luz, se prostraram ao chão por medo, mas, ao passar este momento e eles olharem ao redor, viram apenas Jesus, a presença mais importante, e para onde devemos sempre estar olhando. Pedro, Tiago e João são os discípulos que testemunharão milagres expressivos de Jesus e, depois, sua agonia.
O Monte Tabor relembra a teofania – encontro pessoal, físico com Deus, manifestação de Sua divindade no tempo e espaço – de Moisés no Monte Sinai, quando desfrutava da glória de Deus, e que foi exprimida no rosto e nas vestes brancas de Jesus, enquanto a presença de Deus e sua transcendência são exprimidas na nuvem que os cerca. A luz é a comunhão perfeita que emite o conhecimento mútuo; Elias com a carruagem de fogo, Moisés com a sarça ardente, Maria e os apóstolos no Cenáculo de Pentecostes, Paulo no caminho de Damasco. Tiago, João e Pedro no Monte Tabor. A Transfiguração é um alicerce para a fé, sustenta e fortifica os três discípulos, e é um presságio do Reino de Deus. A Transfiguração é uma lição de confiança e fé também para nós, assim como foi para os seguidores de Cristo na época, é um exercício de esperança para os nossos momentos de escuridão.
Jesus leva Pedro, Tiago e João à montanha para que eles não duvidem mais da fé, escutem-no e creiam verdadeiramente nele. Que o Senhor nos dê coragem para conseguirmos nos despir das nossas vontades e seguir aquilo que Ele tem separado para nós, que sua voz seja o guia da nossa caminhada, que nossos ouvidos e nossos olhos estejam focados sempre em Suas palavras.
FONTES:
VITTO Rafael e Vargas, Bianca. Festa da Transfiguração do Senhor. Canção Nova, 2024.
RIBEIRO, Vinícius. O que é a Transfiguração do Senhor? Comunidade Shalom, 2023.
TEMPESTA, Cardeal Orani João. Transfiguração do Senhor. CNBB, 2018.
Pe. Paulo Ricardo. O que nos revela a Transfiguração de Cristo? Padre Paulo Ricardo, 2022.
Festa da Transfiguração do Senhor. Diocese de Sete Lagoas Minas Gerais, 2019.